Co-Inoculação: características desejadas e modo de ação.

A inoculação de bactérias do gênero Bradyrhizobium é uma técnica amplamente conhecida e utilizada na cultura da soja no Brasil. Essas, realizam associação simbiótica com as raízes de leguminosas contribuindo com o nitrogênio requerido pelas plantas e gerando economia ao produtor na compra de insumos. Uma técnica conjunta vem sendo realizada para ampliar o potencial de ganhos na produtividade, a co-inoculação.

A co-inoculação consiste em utilizar mais de uma espécie de microrganismo em conjunto na inoculação. Tem sido objeto de interesse a interação entre as bactérias simbióticas no caso do Bradyrhizobium e as bactérias diazotróficas que pertencem ao gênero Azospirillum (BARBARO et al., 2008). O gênero Azospirillum abrange um grupo de bactérias de vida livre que ganharam destaque após a descoberta da sua capacidade de fixação biológica de nitrogênio pela pesquisadora da Embrapa, Dra. Johanna Döbereiner (1924-2000). A fixação ocorre pela ação da enzima dinitrogenase, que é capaz de romper a tripla ligação do N2 atmosférico e reduzi-lo de forma a disponibiliza-lo para as plantas. Contudo o processo realizado por essas bactérias associativas consegue suprir apenas parcialmente o N requerido, excretando somente uma parte do nitrogênio fixado (HUNGRIA et al., 2011).

Além da fixação do nitrogênio são atribuidos outros benefícios da presença dessas bactérias. Tien et al. (1979) verificaram estímulo do crescimento de raízes devido à liberação do ácido indol-acético (AIA), giberilinas e citocininas. O maior desenvolvimento radicular possibilita incrementos na absorção da água e minerais, maior tolerância a estresses como salinidade e seca, resultando em uma planta mais vigorosa e produtiva (ex.: Bashan & Holguin, 1997; Dobbelaere et al., 2001; Bashan et al., 2004). Consequentemente são observados melhorias na estrutura aérea das plantas, Barassi et al. (2008) relatam a melhoria em parâmetros fotossintéticos das folhas, incluindo o teor de clorofila e condutância estomática, maior teor de prolina na parte aérea e raízes, melhoria no potencial hídrico, incremento no teor de água do apoplasto, maior elasticidade da parede celular, maior produção de biomassa e maior altura de plantas.

Ensaios envolvendo a prática de co-inoculação mostram uma grande variabilidade nos resultados, alguns relatam aumento na produtividade e outros nenhuma diferença significativa. Uma possível expliação é que as populações das bactérias existentes no solo já apresentavam estirpes eficientes e em número adequado (BIZARRO, 2008). Penot et al. (1992) relataram afinidade de estirpes por determinadas espécies vegetais, devido à isso a seleção de estirpes eficientes para culturas específicas é um fator chave para o sucesso da co-inoculação. Outro desafio a ser enfrentado é a compatibilidade com os produtos utilizados no tratamento de sementes.

A prática tem grande potencial para maior eficiência no aumento da produtividade aliada à necessidade de maior sustentabilidade na agricultura e ao alto custo dos fertilizantes químicos, trazendo diversos benefícios aos produtores como os citados anteriormente.

Referências bibliográficas

BARASSI, C.A.; SUELDO, R.J.; CREUS, C.M.; CARROZZI, L.E.; CASANOVAS, W.M.; PEREYRA, M.A. Potencialidad de Azospirillum en optimizer el crecimiento vegetal bajo condiciones adversas. In: CASSÁN, F.D.; GARCIA DE SALAMONE, I. (Ed.) Azospirillum sp.: cell physiology, plant interactions and agronomic research in Argentina. Argentina: Asociación Argentina de Microbiologia, 2008. p.49-59.

BASHAN, Y.; BUSTILLOS, J.J.; LEYVA, L.A.; HERNANDEZ, J.-P.; BACILIO, M. Increase in auxiliary photoprotective photosynthetic pigments in wheat seedlings induced by Azospirillum brasilense. Biology and Fertility of Soils, v.42, p.279-285, 2006.

CAMARA, G. M. S. Fixação Biológica de nitrogênio em soja. Informações agronômicas, n. 7, 2014.

DOBBELAERE, S.; CROONRNBORGHS, A.; THYS, A.; PTACEK, D.; VANDERLEYDEN, J.; DUTTO, P.; LABANDERA-GONZALEZ, C.; CABALLERO-MELLADO, J.; AGUIRRE, J.F.; KAPULNIK, Y.; BRENER, S.; BURDMAN, S.; KADOURI, D.; SARIG, S.; OKON, Y. Responses of agronomically important crops to inoculation with Azospirillum. Australian Journal of Plant Physiology, v.28, p.871-879, 2001.

HUNGRIA, M.; CAMPO, R.J.; MENDES, I.C. A importância do processo de fixação biológica do nitrogênio para a cultura da soja: componente essencial para a competitividade do produto brasileiro. Londrina: Embrapa Soja, 2007. 80p. (Embrapa Soja. Documentos, 283). (ISSN 1516-781X; N 283).

PENOT, I.; BERGES, N ; GUIGUENE, C.; FAGES, J. Characterization of Azospirillum associated with maize (Zea mays L.) in France using biochemical tests and plasmid profiles. Canadian Journal of Microbiology, v.38, p.798-803, 1992.