Conheça os principais nematoides da cana-de-açúcar

Atualmente, o Brasil figura como maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com uma área total colhida de 8,4 milhões de hectares na safra 2020/2021. Além de sua importância econômica, a cana é fonte de energia renovável, representando aproximadamente 17,4% da matriz energética brasileira. Entretanto, para não comprometer toda essa importância, é preciso estar atento a uma ameaça: os nematoides da cana-de-açúcar.

Nematoides são vermes de diversos tamanhos, geralmente abundantes no solo e na água. Muitas vezes são parasitas de animais, insetos e também de plantas.

Várias espécies de nematoides já foram associadas à cana-de-açúcar, mas nesse conteúdo vamos falar de duas espécies que são encontradas em mais de 70% das áreas cultivadas.

Nematoides das lesões radiculares (Pratylenchus )

Os nematoides das lesões radiculares são um dos grupos de maior importância para agricultura brasileira, principalmente devido à sua alta frequência de ocorrência e diversidade de hospedeiros.

O gênero Pratylenchus é o que mais afeta a cultura. Dentro dele, as principais espécies são a P. zeae, seguida da P. brachyurus .

Quais culturas esse nematoide afeta além da cana-de-açúcar?

A faixa de hospedeiros de P. brachyurus é bastante variada, causando também danos a culturas como soja, milho, algodão, feijão, sorgo e café. Por outro lado, o P. zeae é mais seletivo, se alimentando apenas de plantas do grupo das poaceas, como milho e brachiarias.

Cabe salientar que quanto maior a faixa de hospedeiros do nematoide, mais difícil é o seu manejo. Isso acontece devido à dificuldade de encontrar culturas que não são afetadas pelo nematoide para serem utilizadas em rotação.

Como é o ciclo de vida do de P. zeae e P. brachyurus? 

Ambos possuem um ciclo bastante semelhante. Quase todos os estágios de Pratylenchus são vermiformes e móveis, estando aptos a infectar a planta. O desenvolvimento costuma acontecer da seguinte forma:

1. Com o ovo recém eclodido, é atraído pelos exsudatos produzidos pelas raízes.
2. Ele migra pelo solo em direção ao sistema radicular da planta, podendo penetrar em qualquer região da raiz.
3. Ao adentrar na raiz, movimenta-se pelas células das plantas, se alimentando e abrindo pequenas galerias no interior da raiz.
4. O nematoide permanece em movimento até completar o seu ciclo de vida, que dura entre 3 e 4 semanas, para P. zeae e P. brachyurus, respectivamente.

O ciclo relativamente curto do nematoide possibilita o desenvolvimento de várias gerações ao longo do cultivo da cana-de-açúcar. A lesões causadas ainda deixam portas de entrada para fungos oportunistas, como Fusarium, Rizoctonia e Verticillium.

Consequências da infecção

As plantas infectadas com o Pratylenchus, quando em alta densidade populacional, têm o desenvolvimento comprometido em função dos danos causados às raízes, levando a reduções expressivas na produtividade. Além disso, elas passam a apresentar menor perfilhamento e tornam-se mais sensíveis ao tombamento e à falta de água, reduzindo também a longevidade do canavial.

Os sintomas do ataque de Pratylenchus dificilmente são percebidos no dossel da planta. Entretanto, ferramentas de agricultura de precisão têm auxiliado na identificação de manchas ou reboleiras no canavial, que muitas vezes são correlacionadas à presença dos nematoides.

Nematoides de galhas (Meloidogyne spp.)

No grupo dos nematoides de galhas, os que se destacam na cultura da cana-de-açúcar são Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica, que devido à severidade e danos causados, constituem alguns dos maiores desafios da cultura canavieira.

O M. javanica pode provocar reduções de 20 a 30% na produtividade, enquanto M. incognita pode ocasionar perdas próximas a 40%. Entretanto, quando em altos níveis populacionais, as perdas podem chegar a 50%.

O ciclo de vida do M. javanica e do M. incognita 

Os nematoides de galha têm como estágios de vida: o ovo, quatro fases juvenis e a fase adulta. Diferentemente do vimos com o Pratylenchus, o hábito de parasitismo desses nematoides é sedentário. Seu ciclo segue o seguinte padrão:

1. Assim que eclode do ovo, o parasita penetra na raiz com o auxílio do estilete na região da coifa e se aloja entre os feixes vasculares do cilindro central.
2. Inicia-se um processo de interação fisiológica com a raiz por meio da injeção de substâncias proteicas que alteram a fisiologia e morfologia das células.
3. As células modificadas apresentam a formação de vários núcleos (multinucleadas), tornando-se células gigantes.
4. As células vizinhas às células gigantes passam a se multiplicar de maneira desordenada, resultando no aumento anormal do tecido vegetal naquela região, dando origem às galhas radiculares.

Como identificar uma infecção por nematoide da cana-de-açúcar?

Os sintomas primários podem ser observados no sistema radicular da cultura, onde há a formação de galhas, engrossamento das pontas das raízes e redução da quantidade de raízes secundárias.

Além disso, alguns reflexos do ataque são a presença de plantas subdesenvolvidas, amareladas e murchas nas horas mais quentes do dia. Isso resulta em canaviais irregulares e com baixa produtividade.

O maior desafio para enfrentar nematoides na cana-de-açúcar

O principal agravante da incidência de nematoides em cana-de-açúcar é que a sua presença é muitas vezes negligenciada. Como o nematoide é um organismo que está no solo, sua presença só é detectada quando os sintomas na parte área são visíveis, ou seja, quando já existe um elevado nível populacional.

Portanto, conhecer a área, bem como as espécies e os respectivos níveis populacionais é fundamental para definir estratégias de manejo e evitar maiores danos a cultura.

Quer saber como manejar os nematoides em cana-de-açúcar? Envie uma mensagem que um de nossos especialistas vai te passar todos os detalhes.